domingo, 15 de setembro de 2019

Racismo na escola

O Brasil carrega a mancha de ser a última nação a pôr um fim à escravidão, um sistema que vigorou por três longos séculos. Todavia, apenas cento e trinta anos nos separa da dita abolição, que não se deu devido a uma mera assinatura, mas à custa de muito sangue e suor negro. Hoje, entretanto, ainda aprendemos a “maneira correta” de cortar o cabelo; a olhar sem levantar suspeitas; a nos vestir e nos portar adequadamente; a aceitar certos tipos de comentários sem retaliar; e jamais correr. O Brasil é um país miscigenado, mas ser negro é sinônimo de marginal - de pessoa com má índole”. 

Uma herança desse grande período escravagista é o racismo, que se faz presente de diferentes maneiras. No entanto, um território no qual ele jamais deveria se manifestar é na escola, espaço de equidade e respeito. Mas não é bem isso que ocorre. O racismo é perceptível cotidianamente através de piadas, brincadeiras e ditos populares que ultrapassam os muros da escola e transcendem gerações, normalizando e institucionalizando o preconceito. (ROSSEANTES e GESSEU) 

Voltando ao terreno do Liceu, que é "a nossa praia", como fazer se a "brincadeira", o dito popular e/ou a piada de cunho racista vier de quem deveria se dedicar a romper com esse tipo de pensamento? "de nada adianta dispor de livro didático e currículo apropriado se o professor for preconceituoso, racista e não souber lidar adequadamente com a questão" (VALENTE, 2005, s/p) 

Outrossim, presenciei uma situação envolvendo um docente, o qual fez um comentário racista, em que no primeiro momento somente alguns dos meus colegas perceberam a atitude inadequada à posição de mentor. Deve-se assumir a existência do racismo, haja vista que não se combate um inimigo inexistente. Visto isso, cabe ao educador mostrar a realidade social do povo brasileiro e o modo como esse é praticado, quase sempre, de maneira velada, encoberto por camadas tão profundas de naturalização da barbárie que nem o próprio racista percebe que o faz (NASCIMENTO, 2015). Além do mais, quando estão diante de uma pesquisa, os cenários assumem a existência do racismo, mas não se assumem como racistas (SCHWARCZ, 2001). Os mestres também escapam a esta perspectiva. "Com raras exceções, o combate ao racismo não é uma meta nas instituições escolares; não é parte da formação dos professores; não é discutido nem mesmo no âmbito familiar, até mesmo dos alunos negros, talvez porque tenha sofrido os mesmos ataques e tenha se resignado; propaganda este conformismo." (MIRANDA, 2004) 

A existência de diálogos entre alunos e docentes dentro das escolas é de extrema necessidade para que ambos possam identificar, discutir e combater o racismo – desnaturalizando práticas outrora naturalizadas sob máscaras diversas. 

Autor@: Pibidian@ Carlos Eduardo de S. Alves



REFERÊNCIAS 

ROSSEANTES e GESSEU. Racismo e anti-racismo na educação, cap.I - A experiência de branquitude de conflito raciais; estudos de realidade brasileira e estadunidense. Selo negro edições: 2001, p 11.

SCHWARCZ, L. M. Racismo no Brasil. São Paulo: Publifolha, 2001. 

NASCIMENTO, Gustavo. O Racismo Velado. 2015.

VALENTE, A. L. Ação afirmativa, relações raciais e educação básica. Revista Brasileira de Educação. Rio de Janeiro, n. 28, p. 62-77, 08/set. 2019.

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